linux-BR.org

Notícias de software livre e tecnologias

Nota: Esta tradução da matéria original (na fonte) pode conter a opinião dos editores deste blog e resumos explícitos da fonte. Consulte a fonte e tire também suas conclusões.

Em Maio deste ano, Rafael Avila de Espindola anunciou sua saída da lista de contribuidores da llvm. De uma forma bastante resumida a decisão foi tomada por conta do CoC (Code of Conduct – Código de Conduta) do projeto, que possuía alguns itens dúbios/suspeitos removidos após um tempo e a infeliz parceria feita com instituições que prezam pela inclusão discriminando explicitamente como a Outreachy. Em uma nova postagem (Fonte) Rafael explicou detalhadamente seu ponto de vista e porque se desvinculou do projeto.

Rafael começou detalhando seu envolvimento no projeto LLVM, como tudo começou em 2006 ao trabalhar “full-time” neste projeto e como projetos opensource podem ser de grande valia para pessoas como ele, que começam como estudantes/aprendizes e como estes projetos alavancam tecnologias que antes ficavam na mão de apenas algumas empresas centralizadoras. Desta forma, empresas que são concorrentes colaboram nas suas tecnologias em comum (como o Kernel Linux) e ninguém na internet precisa saber que você é um cachorro.

Ai entra o problema: A criação do CoC do LLVM que promovia discriminação em nome da “inclusão” em suas políticas. Junto a este fato, o Google Summer of the Code estava chegando e a LLVM Foundation decidiu que faria uma parceria com a Outreachy, e alguns dos critérios de elegibilidade para participar de projetos atrelados a mesma são:

  • Morar em qualquer lugar do mundo e se identificar como mulher (cis ou trans), homem trans ou genderqueer (genderfluid ou genderfree).
  • Morar nos EUA ou ser residente permanente de tal país E ser uma pessoa de qualquer gênero que seja Negro/Africano Americano, Hispânico/Latino@, Nativo Americano/Índio Americano, Havaiano Nativo, ou Nativo das Ilhas do Pacífico.

São tão ruins assim estes critérios? Diversidade não é algo a ser incentivado? De acordo com Rafael a diversidade não é necessariamente algo ruim, se implementada em um país onde estrangeiros são bem-vindos. Rafael é Brasileiro que se mudou para a Irlanda e depois para o Canadá, onde participa do programa de residência permanente já que as leis de imigração dos EUA são bastante restritivas. Com base no seu cenário (graduando no Brasil), Rafael estaria impossibilitado de colaborar com o projeto em um GSOC e isto também quebraria toda a lógica do opensource que rompe barreiras territoriais, expande naturalmente a diversidade e seleciona membros de uma forma totalmente meritocrática já que os dispostos a colaborar farão um esforço maior.

Dando mais embasamento a sua opinião, Rafael também cita a Lei de Goodhart, que diz que “quando uma métrica torna-se uma meta, esta deixa de ser uma boa métrica” para enquadrar a confusão que as organizações e pessoas criam em nome da “diversidade”, e como as cotas limitam o mérito de quem está mais apto a colaborar com um determinado projeto. Ele também cita o caso Wilberg vs. Google onde o recrutador era forçado a manter cotas mínimas para diversos grupos étnicos em vários projetos da Google. Mais detalhes sobre este caso como solicitações para apenas programadoras mulheres no Youtube podem ser encontradas no The Register.

Segundo Rafael, também é confusa a interpretação dos requisitos da Outreachy. Porque é suficiente se identificar como mulher ao redor do mundo, mas precisa SER Negro ou Hispânico numa minoria demográfica privilegiada? Porque os EUA são um caso privilegiado? Porque um Hispânico dos EUA é mais especial nestes critérios que um morando no México, Guadalajara ou Tijuana?

Outro detalhe é que a adoção dos critérios de elegibilidade da Outreachy foram só a gota d’água, já que versões mais antigas do CoC da LLVM continham itens explicitamente discriminatórios (e felizmente descontinuados) introduzidos pelo grupo TODO como por exemplo o texto: “Não iremos agir em reclamações relacionadas a -ismos reversos: ‘racismo reverso’, ‘sexismo reverso’ e ‘cisfobia'”. Infelizmente este protótipo se popularizou e foi até adotado pelo GitHub. Sob a ótica do Rafael, é bastante estranho que um projeto como o LLVM utilize os dizeres “Nos empenhamos em ser uma comunidade acolhedora para todos os tipos de backgrounds e identidades”, mas bloqueiam projetos baseados em cor de pele e sexo.

E um último mas não menos importante item é que “violações do código fora dos espaços da LLVM poderão em raros casos afetar a habilidade da pessoa de participar destes espaços”. Em um raciocínio rápido pessoas que são expoentes vocais sobre os perigos do tribalismo (Jordan Peterson) ou do islamismo (Maajid Nawaz) seriam excluídos por serem ‘desrespeitosos’ ?! Projetos Opensource não deveriam se importar se você é pró/contra aborto ou pró/contra armamentos.

Nota nossa: Vale também lembrar que a OSD, importante baliza de projetos Opensource possui o seguinte item relevante para limitações de LICENÇA, motivo pelo qual projetos criam estas amarras “virtuais” através de Códigos de Conduta:

  • 5: Não discriminação contra Pessoas ou Grupos – O item 5 é claro: Restrições não podem ser impostas a não ser de forma legal, com em Leis específicas do USA. Softwares opensource devem englobar a MAIOR DIVERSIDADE POSSÍVEL de pessoas e grupos, sendo todos capazes/elegíveis de contribuição.

Projetos Opensource sempre foram conhecidos por sua receptividade mas parece que a filosofia “Bring your whole self to work” se tornou tão popular que os projetos querem forçar o que o seu “whole self” precisa ser, e isto não aumenta a diversidade. Do contrário, produz uma atmosfera de conformidade sufocante.

Parte 1: Um dos principais desenvolvedores sai do LLVM

Fonte: Diversidade e Discriminação no Opensource