Com a provável vitória do candidato de extrema-direita, Jair Bolsonaro, à presidência da República, será necessário tomar alguns cuidados ao navegar na internet, principalmente se você fizer parte de algum grupo social contrário à ideologia do novo governo. Muitos podem achar esse post algo paranóico, mas não se trata disso. O então pré-candidato, em um pré-encontro com eleitores, disse que o Brasil não é um país laico, mas cristão, e que as minorias teriam que se curvar às maiorias, devendo se adequar ou desaparecer.
Portanto, se você é homossexual, bissexual, ateu, espírita, usuário de drogas ilícitas, liberal, socialista ou se encaixe em qualquer perfil que não seja o propagado pela extrema-direita conservadora brasileira, leia esse post com atenção.
1. Troque o Windows pelo Linux
Mesmo que você tenha pavor em ouvir falar de Linux e seja um fiel usuário dos sistemas da Microsoft, os sistemas e programas da gigante de Redmond devem ser considerados inseguros por padrão. O motivo não é de menos: desde seu lançamento o Windows 10, versão mais atual do sistema, vem despertando polêmicas por sua coleta de dados agressiva, seu sistema de telemetria e sua assistente virtual, Cortana.
É claro que muitos dirão que não podem simplesmente trocar de sistema porque o mesmo é utilizado para jogos ou trabalho. No entanto, essa medida radical não é necessária: utilize o Linux – tanto a partir de um pen drive, de um live-cd ou de uma partição no seu disco rígido (“dual boot”) – para navegar na internet e o Windows para seus jogos ou trabalho. Se possível, utilize o Windows apenas offline – sem conexão com a Internet – e se conecte apenas através do Linux. Aliás, jogos não são mais desculpa, pois graças ao projeto Proton, já é possível rodar jogos do Windows no ambiente open source.
Um cuidado adicional pode ser necessário: o uso de Linux pode ser considerado um ato subversivo ou apologia ao socialismo. Portanto, é interessante que os usuários modifiquem os user agents de seus navegadores para que eles informem que estão sendo executados sob o Windows.
2. Contrate uma boa VPN para navegar na internet
Quando você navega na internet, deixa para trás vários rastros e informações de suas atividades online. Em geral, os servidores web dos sites que você visita coletam seu endereço IP e, com um mandato judicial, o governo pode obter essas informações e chegar até você, principalmente se você costuma baixar filmes, músicas, jogos e programas piratas ou acessar páginas com conteúdo ilegal e – a partir de janeiro de 2019 – contrário aos valores familiares e cristãos.
Uma boa ideia é navegar através de uma VPN, sigla em inglês para Rede Virtual Privada. Com isso, os sites não registrarão as suas informações, mas as da rede e, assim, será mais difícil chegar até você.
De preferência, escolha uma VPN que opere no exterior e que prometa não manter os logs de navegação e de acesso dos seus usuários. É provável que você precise pagar para utilizar esses serviços.
3. Esqueça o TOR e esse negócio de Deep Web
Muitos leitores devem estar pensando em, no caso do início de uma repressão on-line, começar a usar a rede TOR, que praticamente se tornou sinônimo de “deep web”. Em minha opinião, isso seria uma péssima ideia por dois motivos: primeiro, porque nos últimos anos já foram descobertas várias falhas de segurança no TOR que permitiriam descobrir o endereço IP real dos usuários; segundo, porque o TOR já “orkutizou”. Basicamente, quase todo mundo já conhece essa rede, e quase todo mês sai alguma notícia de que a PF, o FBI ou outra força policial prendeu alguém que estava realizando atividades ilegais “na deep web”. Ou seja, o TOR seria o primeiro lugar em que eles procurariam os “subversivos”.
4. Guarde seus arquivos off-line ou, em última hipótese, em uma nuvem privada
Os avanços tecnológicos dos últimos anos nos trouxeram várias comodidades, como a de poder acessar nossos arquivos pessoais a qualquer hora, em qualquer lugar, através da famosa nuvem. O que não faltam são serviços grandes e pequenos, como GDrive, OneDrive e Dropbox, oferecendo espaço pago e gratuito para você enviar seus arquivos pessoais. Entretanto, toda essa comodidade pode ter um alto preço relacionado à sua privacidade e segurança.
No caso de entrarmos em um regime de exceção, os órgãos do governo tentariam obter evidências contra você através da coleta de arquivos digitais. Se você mantém seus arquivos na nuvem, tudo que as autoridades precisariam fazer seria emitir uma ordem judicial contra a empresa dona do serviço de hospedagem e a mesma seria obrigada a cooperar, independente do que você acha.
Portanto, uma solução seria armazenar seus arquivos offline, utilizando mídias como: HDs externos, cartões SD, pen drives, DVDs, blu-rays, etc… Além disso, é preferível que você criptografe esses dispositivos de armazenamento, o que vamos falar mais adiante.
Se, mesmo assim, você não puder abrir mão do serviço de nuvem, você pode criar a sua própria. Basta contratar um servidor VPS em um país seguro e instalar, nele, um serviço como o NextCloud, que possui, inclusive, clientes para smartphone.
5. Apague ou limite seus perfis em redes sociais e em aplicativos
Seguindo a mesma lógica do item anterior, seus posts em redes sociais podem se tornar uma forte arma contra você – principalmente se você costuma colocar opiniões políticas ou polêmicas em seu perfil ou comunidades. O melhor que você tem a fazer é simplesmente apagar seu perfil ou torná-lo privado – sendo que, nesse caso, não há garantias de que você estará completamente protegido. O mesmo vale para aplicativos como Spotify, Netflix e outros.
6. Criptografe seu smartphone e o disco rígido de seu computador. Não utilize sua digital para destravar o smartphone.
As versões mais atuais do Android e do iOS possuem recursos nativos de criptografia, que fornecem uma camada adicional de privacidade ao usuário. Desde o escândalo da NSA, criptografia deixou de ser opcional: ative o recurso agora!
Se você usa um desktop ou notebook, a maioria dos sistemas operacionais atuais também oferecem criptografia. Para sistemas Linux, é possível utilizar o LUKS, já nativo. Para outros sistemas – e também no Linux – é possível usar o VeraCrypt, que pode tanto criar unidades virtuais criptografadas quanto codificar pen drives e seu disco rígido principal. Apenas não confie no famoso BitLocker da Microsoft, por razões óbvias.
Se possível, leia o livro How to be invisible, de JJ Luna, que está disponível online e fornece dicas valiosas de como proteger os arquivos de seu computador, mantendo sua privacidade e anonimato.
7. Use criptomoedas, se possível
Todas as operações financeiras que você faz – desde uma compra no supermercado até um depósito em sua conta corrente ou poupança – podem ser rastreadas pelo governo, que possui mecanismos para tal. Uma boa ideia seria passar a utilizar criptomoedas, como bitcoin, monero, etherium e outras. Elas não oferecem 100% de privacidade, mas são descentralizadas, não estão sujeitas à autoridade de nenhum país (exceto o Petro, da Venezuela…) e podem ser uma reserva de emergência em um momento de crise.